10 de setembro de 2012

O Monstro da Ignorância

Correntes! Boatos! Notícias falsas!

É disso que se alimenta o MONSTRO DA IGNORÂNCIA, uma obscura criatura que odeia a verdade e sobrevive graças à preguiça, impossibilidade ou simples falta de vontade que muitas pessoas têm de pesquisar se as estórias que aparecem por aí são reais ou pura balela.


Clique na imagem para vê-la em tamanho grande

Com um arsenal invejável, o monsto é capaz de proliferar moléstias terrivelmente contagiosas, que se espalham pela internet ou pelo boca-a-boca com grande velocidade e atinge um número enorme de vítimas.

A viscosa criatura às vezes aparece travestida de boa vontade, fisgando quem não se preocupa em checar a fonte das informações que recebem. Uma das suas principais armas é a capacidade de dar às pessoas infectadas a falsa sensação de que estão fazendo a parte delas e que é melhor pecar pelo excesso, não custando nada passar a informação à frente, independentemente de ser verdade ou mentira. O que não é verdade, pois a mentira provoca injustiças e atrapalha a veiculação de informações verdadeiras.

Mas derrotar a aberração é muito simples. Basta que se siga um check-list de 3 passos, ao receber uma informação:

1. Cheque a sua autenticidade! Na maioria das vezes, uma pesquisa simples na Internet já resolve este caso. E lembre-se: sites idôneos de grandes veículos valem. Blogs pessoais e sites desconhecidos devem ser utilizados com moderação.

2. Não tem como checar a autenticidade? Não passe a informação à frente! Acredite, se for importante, as pessoas saberão de outra forma.

3. Ainda assim, a informação é muito importante e urgente? Avise que a autenticidade não foi checada! Assim, quem receber a informação poderá ter a oportunidade que você não teve de checar a veracidade.

Vamos derrotar este monstro!

8 de agosto de 2011

Crítica de filme: CRIAÇÃO

Criação
Creation (2010)

Direção: Jon Amiel
Elenco: Paul Bettany (Charles Darwin), Jennifer Connelly (Emma Darwin), Toby Jones (Thomas Huxley), Jeremy Northam (Reverend Innes), Martha West (Annie Darwin)

Nota 5


O relato de como foram feitas algumas das maiores descobertas da humanidade geralmente rendem narrativas muito interessantes, já que normalmente nos contam como a superação, perseverança e inteligência de alguns personagens conseguiram fazer com vencessem confrontos com poderosas autoridades e instituições já estabelecidas.

A história de como o naturalista Charles Darwin concebeu e apresentou a sua Teoria da Seleção Natural não é diferente. E é exatamente isto que mais decepciona em Criação, do inglês Jon Amiel: o que poderia gerar um filme instigante e filosófico, rende apenas um drama raso e insosso.

Vamos à sinopse: depois de anos coletando e analisando dados, Darwin (Paul Bettany), um homem da ciência, mas de formação religiosa, chega à surpreendente conclusão de que todos os seres vivos existentes evoluíram de um único e primitivo ancestral, o que contraria o dogma religioso que Deus teria criado em apenas um dia todas as criaturas tais como hoje nos aparecem. Ciente das implicações que a revelação desta descoberta provocaria, o naturalista hesita em publicá-la durante anos. Isto não impede que sua vida familiar entre em colapso, já que, após a morte de sua filha mais velha, Darwin passa a encontrar conforto apenas na solidão do seu escritório, acabando por se afastar cada vez mais de sua família – particularmente de sua esposa Emma (Jennifer Connely), que se preocupa com o distanciamento cada vez maior entre seu marido e a fé.

Visualmente impecável, o filme impressiona desde o seu início, quando, durante a apresentação, galáxias transformam-se em cardumes, pássaros, borboletas e espermatozóides, numa suave transição que nos lembra sutilmente que toda a natureza está interligada. Da mesma forma, bem elaboradas cenas como a das larvas sendo devoradas por um pássaro que, momentos depois, acidentalmente deixa seu filhote cair do ninho (para então ser devorado por outras larvas), assustam pela sua crueza, mas demonstram de forma eficiente a natureza cíclica da vida. Também os figurinos e cenários reconstituem bem o estilo vitoriano, o que demonstra cuidado em retratar o mundo em que viveu Charles Darwin.

Infelizmente, os acertos terminam aí.

O elenco, apesar de contar com bons nomes, está pouco inspirado. Jennifer Connely, como a esposa devota, bem poderia ser substituída por uma atriz menos talentosa, já que seu papel pouco a exige (talvez tenha sido escolhida por ser a esposa de de Paul Bettany na vida real). O sempre talentoso Toby Jones tem pouco a fazer em cena – seu personagem, Thomas Huxley, o “buldogue de Darwin”, é totalmente desperdiçado no filme. A exceção fica para Bettany, que vive um Darwin amargurado e inseguro, cuja evidente fragilidade destoa da força de suas idéias.

Mas é no roteiro que Criação tem a sua principal deficiência.

Talvez por considerarem que a história verdadeira da elaboração da Teoria da Seleção natural fosse muito enfadonha (o que é estranho, uma vez que tenham decidido contá-la em um filme), Jon Amiel, e mais dois co-roteiristas, John Collee e Randal Keynes (por que tantos?) decidiram “complementar” o drama pessoal de Darwin com elementos inexistentes e bizarros, que acabam quase por arruinar todo o filme.

Por que, por exemplo, criar uma personalidade esquizofrênica para o naturalista, fazendo-o conversar e discutir com sua filha morta há anos? E porque evidenciar tanto o distanciamento do mesmo com a família, já que não há nada que sugira que tal sentimento tenha um dia existido? Porque, ao invés de concentrar-se no antagonismo entre ciência e religião (que prometia ser a base do filme), o roteiro perde um tempo precioso com a culpa que Darwin atribuía a si próprio pela perda da filha?

E, já que falamos em tempo perdido, o filme ainda apela também ao contar de forma totalmente desastrosa a história de um orangotango preso em cativeiro. Não que mesma não seja interessante (ela é), mas é relatada de forma preguiçosa e desconexa, e acaba por se tornar desnecessária e cansativa. E o que dizer do, no mínimo estranho, prazer de uma menina que quer que o pai conte uma história que ela considera triste... porque “a faz chorar”!?

Talvez o problema resida na escolha do período abordado. A história da elaboração da teoria darwinista tem pontos extremamente interessantes, todos fora do intervalo de tempo no qual se passe praticamente todo o filme. A viagem de Darwin no Beagle (onde ocorreram seus contatos com os nativos da Terra do Fogo, brevemente narrados no início do longa, e com as maravilhas que encontrou em Galápagos) ocorreu anos antes, e a polêmica que se seguiu ao lançamento do livro, marcada pelos grandes embates entre Huxley e os religiosos, ocorre depois. Porém, os roteiristas decidiram basear-se no drama familiar e optaram por retratar justamente a época talvez menos interessante da vida do naturalista.

Definitivamente, a história da criação da Teoria da Seleção Natural pode render um filme melhor. Pena que, neste caso, os produtores não acreditaram nisto.

Crítica escrita em 05/08/2011

29 de setembro de 2010

Transparência Brasil

Não quer perpetuar a corrupção que assola o país?

Não vote em corrupto. Não vote em quem acoberte corrupto. Não vote nem em quem você suspeite que seja corrupto (há candidatos de sobra para qualquer cargo eletivo; você não perde nada votando em quem você acha que não é corrupto).

Existem várias ferramentas para o eleitor consciente. Uma delas é o excelente Projeto Excelências, cujo objetivo é o de trazer informações sobre todos os parlamentares em exercício nas Casas legislativas das esferas federal e estadual, e dos membros das Câmaras Municipais das capitais brasileiras. Lá você encontra: dados pessoais do candidato, matérias relevantes na imprensa sobre escândalos em que ele estava envolvido, análise sobre o seu trabalho e como votou nos assuntos apresentados em suas respectivas casas.

O site está em: http://www.excelencias.org.br/

Se você acha que é perda de tempo analisar em quem vai votar, faz parte daquela enorme parcela da população que não se interessa pelo assunto e é diretamente responsável pela manutenção dessa gentalha no poder.

Um abraço e boas eleições!

24 de agosto de 2010

O enigma da girafa - Parte 3 de 3

Na 2ª parte deste artigo, em que analisamos os erros mais comuns de entendimento da teoria evolucionista, proposta por Charles Darwin em seu livro “A Origem das Espécies”, fizemos uma análise de dois equívocos muito comuns: o lamarckismo e a idéia de que o homem é a mais evoluída dentre todas as criaturas.

Nesta última parte, analisaremos o talvez mais difundido equívoco sobre o assunto: a absurda idéia de que o homem evoluiu do macaco! E, para finalizar, vamos verificar se realmente não há nenhuma evidência que demonstre que a teoria da seleção natural está correta.


Avô macaco

Em 1859, a publicação de “A Origem das Espécies” causou uma explosiva reação em toda a sociedade. Não foi, na verdade, nenhuma surpresa para Darwin. De formação religiosa e dono de um temperamento tímido, pouco afeito grandes discussões, o naturalista elaborara a teoria vários anos antes de publicá-la mas, receoso da repercussão que a obra teria, manteve-a restrita a um pequeno círculo de amigos que, afinal, o convenceram a expô-la ao mundo.

E, como esperado, a recepção ao livro foi extremada, fascinando alguns e horrorizando a outros. A controvérsia não tinha par em toda a história da ciência. Era motivo de discussões acaloradas em todos os círculos científicos, objeto de repulsa de diversas religiões e um assunto perturbador para toda a sociedade. É claro, a imprensa não poderia ficar de fora...

Logo, uma idéia assustadora tornou-se o centro das discussões.

Não se sabe exatamente quem foi o primeiro a acusar Darwin de afirmar que o homem é descendente dos macacos, mas durante os anos que se seguiram, milhares de reportagens, artigos, sátiras e caricaturas exploraram este argumento ao limite. As implicações dessa maciça abordagem não poderia ser outra senão a disseminação da idéia no público pouco informado.

Aqueles que discordavam (ou tinham a perder) com a idéia de evolucionismo, como cientistas defensores de outras teorias ou entidades religiosas que pregavam um outro surgimento para o ser humano, encontraram aí uma eficaz arma para desacreditar Darwin. Ora, se o macaco era o ancestral do homem, diversas implicações derivavam daí. Implicações que tornavam toda esta estória de evolução natural uma grande bobagem.

Em 1860, foi travado na Universidade de Oxford o mais famoso embate intelectual sobre o evolucionismo que se teve notícia. Foi lá que Thomas Henry Huxley, um devotado defensor das teorias de Darwin e seu amigo pessoal, tão conhecido pela energia que empregava nesta defesa que acabou conhecido como “o Buldogue de Darwin”, enfrentou o seu maior opositor, o o Bispo Samuel Wilberforce. Em determinado momento da discussão, Wilberforce provocou Huxley, perguntando-lhe se “ele descendia de macacos por parte de pai ou de mãe”. A resposta de Huxley ecoa até hoje como um dos maiores tapas com luva de pelica da história da ciência: “prefiro ser descendente de um macaco do que de um homem educado que usa sua cultura e eloquência a serviço do preconceito e da mentira!”.

Porém, se por um lado a resposta de Huxley foi uma extraordinária e bela defesa, logo se espalhou a estória de que o cientista teria dito que preferia ser um macaco a um bispo, aumentando ainda mais a certeza de que a “Origem das Espécies” afirmava nossa origem simiesca.

Afinal, Darwin achava mesmo que o homem descende de macacos? A resposta, você já deve desconfiar, é não!

Charles Darwin nunca defendeu, nem na “Origem das Espécies” nem em qualquer obra sua, esta descendência. Da mesma forma, nenhum cientista sério acredita nisto.

Ocorre que a teoria evolucionista prega que qualquer ser vivo, da baleia à jabuticaba, descendem de um ancestral comum. Conforme este ancestral evoluía, diversas espécies iam surgindo de acordo com as mutações que sofriam, diferenciando-se paulatinamente umas das outras. Em algum momento na história evolutiva do homem, existiu uma espécie que deu origem a todos os primatas, do sagüi ao homem. Estes depois se dividiram em pelo menos dois ramos: um deu origem ao gênero Macaca, que acabou também por se dividir até se tornarem os chimpanzés, gorilas, orangotangos, babuínos e outros macacos modernos, e outro deu origem ao gênero Homo, de onde se originaram espécies como o homem de Neandertal (que também não foi nosso ancestral, e acabou por se extinguir) e o homem moderno.

Assim, os macacos não são nossos “avôs”. São nossos “primos”.

Ainda que esta reposta não satisfaça aos desejos daqueles que não gostariam de, sob nenhum forma, ter um macaco como parente, mesmo distante!



Onde estão as evidências?
Esta é talvez a reposta mais polêmica dentre todas as deste artigo. E por um motivo simples: para alguns, não importa o quanto se prove um determinado fato, sempre pode-se invalidar as evidências ignorando-as ou usando elaboradas estratégias de retórica. Da mesma forma, qualquer um pode considerar certo fato como provado quando escolhe determinadas evidências e ignora outras, aprofundando-se no assunto só o suficiente para encontrar a confirmação do que deseja, sem se preocupar com o fato de que análises mais profundas podem mostrar um resultado diverso do que se deseja.

Portanto, esta parte do artigo define como evidência apenas aquilo que a ciência consegue explicar de forma lógica com base no conhecimento existente até o momento.

A questão é que os detratores do evolucionismo utilizam-se com muita freqüência do argumento que a evolução não pode ser evidenciada mais do que, por exemplo, a criação das espécies tal como elas hoje nos aparecem. Algumas vezes, utilizando-se de Argumentum ad ignorantiam defendem ainda que a evolução não pode ter ocorrido porquê não pode ser provada.

Darwin utilizou vários exemplos naturais para fortalecer seus argumentos, exemplos tão eficientes (como a variedade do formato dos bicos dos tentilhões, uma espécie de pássaro) que até hoje são respeitados como evidências.

Mas também podemos coletar diversas evidências da evolução da espécie no mundo que nos cerca.

Os fósseis nos dão excelentes informações sobre como ocorreu a evolução. Não encontramos “elos perdidos” vivos, mas seus restos abundam por todo o planeta. Podemos encontrar diversos fósseis que demonstram diversos níveis de evolução do próprio ser humano. Qual é a explicação alternativa para sua existência? Seres extintos que coincidentemente reuniam características híbridas entre espécies cujos restos datam de períodos anteriores e posteriores à sua existência? A questão é que podemos desenhar toda a evolução de certas criaturas apenas com a catalogação dos registros fósseis em extratos sedimentares que se formaram uns sobre os outros durante eras.

Outra evidência muito interessante é a diversidade existente entre os seres vivos ao redor do planeta. Espécies extremamente semelhantes diferenciam-se sobretudo pelo ambiente em que vivem. Ursos polares são brancos, já que neste ambiente animais com esta cor têm mais chances de sobrevivência. Ursos norte-americanos são negros, já que esta cor lhes favoreceram mais. E animais de espécie totalmente diversas compartilham estas características. Claro que o design inteligente tenta dar outra explicação para isto, mas as evidências não param por aí.

Elas estão inclusive no seu corpo.

Note que a base da teoria do design inteligente é o argumento de que a complexidade exigida para a criação das formas de vida que hoje existem têm necessariamente que passar por um “projeto”, e que o simples acaso não poderia resultar num mundo natural tão harmonioso como vemos. Nossos perfeitos corpos podem provar isso, não é? Bem, o problema é que eles não são tão perfeitos assim...

O apêndice não possui qualquer função no corpo humano (apenas o de infeccionar e nos matar). Claro que um designer inteligente não cometeria o erro de criar algo sem função e dado a defeitos potencialmente letais. Mas se lembrarmos de que em alguns animais que se alimentam de plantas o apêndice existe e é necessário, podemos presumir que algum dos nossos ancestrais era herbívoro e nos deixou essa incômoda herança.

Também soluçamos porque anfíbios têm o reflexo de fechar a glote para evitar que água penetre em seus pulmões quando estão respirando pelas brânquias. Uma irritação muscular nos lembra de nosso passado anfíbio e temos este reflexo acionado, sem que isto tenha qualquer utilidade! E nos arrepiamos porque é muito comum seres com pêlos se eriçarem diante do perigo, para parecerem maiores (vide cães e gatos). Nossos ancestrais deviam ter a mesma reação, que ainda persiste no homem moderno. O dente siso (sem função e oriundo de uma época em que tínhamos as mandíbulas maiores), o cóccix (vestígio de um rabo - que inclusive ganhamos e perdemos com poucas semanas no útero materno) e diversas outras partes do corpo humano são resquícios evolucionários que o design inteligente não explica.

Um dos “erros” mais notáveis é a posição da laringe em nossa garganta, que evidencia uma tremenda falha de planejamento hidráulico: só podemos falar porque, para modular nossa voz, nossa laringe fica bem abaixo da posição encontrada em outros primatas. Assim, eles podem respirar e comer ao mesmo tempo. Nós não – engasgamos se tentamos fazer o mesmo. Uma solução simples seria a criação de “tubulações separadas” para as funções de comer e respirar, mas como a evolução se deu por meio de erros e mutações... está até muito bom!

Uma última evidência está em nossa própria genética. O seqüenciamento do DNA mostrou que somos mais próximos de animais que estão no mesmo filo que o nosso. Nosso DNA está mais próximo daquele encontrado no chimpanzé do que em um pato, por exemplo. Sem contar que há “detritos” genéticos (os pseudogenes) presentes no nosso genoma que não têm qualquer função. São ativos em outros animais, mas degenerados no DNA humano.

É claro, um designer inteligente também poderia ser brincalhão a ponto de colocar estas evidências por aí apenas para nos deixar encucados!


***


Com isto, chegamos ao final do nosso artigo com uma última observação. O evolucionismo é uma teoria que explica como os seres vivos que aí estão chegaram a esta incrível diversidade hoje existente. Ela pode não ser definitiva (em ciência, nada nunca é), nem completa (nenhuma teoria é), mas é o melhor que a ciência conseguiu fazer até hoje.

O importante é salientar que Charles Darwin, que no fim de sua vida não podia mais ser considerado um homem religioso, nunca tentou explicar a origem da vida nem do universo. Darwin teorizou o “como”, não o “porquê”.

Estas respostas, o velho naturalista deixou para nossas reflexões...

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12 de novembro de 2009

O enigma da girafa - Parte 2 de 3

Na primeira parte deste artigo, fizemos uma análise das bases do evolucionismo. Passamos a limpo os conceitos básicos propostos por Darwin, aproveitando para explicar porque a seleção natural ainda é considerada uma teoria, e não uma lei. Também observamos que certas idéias equivocadas são propagadas como corretas (por desconhecimento ou por malícia), causando um desserviço para a ciência.

Nesta 2ª. parte do artigo, iniciaremos a análise das principais idéias erradas sobre seleção natural...

1. O enigma da girafa
Não foi à toa que esta matéria foi batizada com o este título! A verdade é que a forma com que o pescoço da girafa atingiu seu atual tamanho já foi motivo de muita polêmica e, mesmo hoje, quando a comunidade científica há muito já chegou a um consenso sobre este assunto, muita gente ainda não entende plenamente o mecanismo que levou este simpático animal a ter o pescoço mais comprido dentre todos os mamíferos.

Os fósseis mais antigos das girafas datam do período Oligoceno (de 37 a 21 milhões de anos atrás), sendo o Paleotragus, que viveu há 20.000.000 de anos, o mais antigo já encontrado. Tratava-se de um animal forte e de pescoço curto, muito semelhante ao ocapi existente nos dias de hoje (que também é seu descendente).

Outro fóssil, mais recente e também mais conhecido nos meios científicos, pertence ao Sivatherium, que viveu há aproximadamente 6 milhões de anos. Era do porte de um veado e, assim como o Paleotragus, também possuía um pescoço curto.

Durante o Mioceno (de 23 a 5 milhões de anos atrás), as espécies finalmente se dividem, com uma linhagem dando origem aos ocapis e outra, às girafas. O primeiro mantém o tamanho do pescoço muito semelhante ao dos seus ancestrais, mas a segunda...

Bem, durante o Plioceno (de 5 a 1 milhão de anos atrás), suas pernas e pescoço começaram a alongar-se, até chegarem ao tamanho que possuem hoje, nas diversas sub-espécies de girafas existentes. Uma curiosidade é que a quantidade de vértebras do seu pescoço, que mede de 3 a 4 metros, não mudou; é exatamente a mesma do Paleotragus e, pasmem!, a mesma quantidade de ossos que a do ser humano.

O que ganhou a girafa com o alongamento do seu pescoço? A teoria mais aceita é o de que esta característica, surgida como produto da evolução, dá à girafa a capacidade de alimentar-se de brotos de folhas de árvores existentes na savana, constituída de alta vegetação herbácea. Estas árvores, como o eucalipto e o baobá, podem atingir de oito a dez metros de altura. É, portanto, uma grande vantagem das girafas a possibilidade de alcançar o seu topo, deixando a vegetação rasteira para ser disputada com outros animais menos afortunados (como seu primo, o ocapi), e lhe dando ainda o proveito de alimentar-se mesmo em tempos de seca, quando há grande escassez de recursos.

Resolvido a questão do porquê, chegamos ao verdadeiro impasse: o como.

E a resposta a esta pergunta transcende a discussão sobre as girafas, uma vez que o meio que levou à essa evolução seria o mesmo mecanismo evolucionário que produziu as características de todas as outras espécies, explicando desde as cores da asa da borboleta à capacidade intelectual do ser humano.

Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) foi um famoso naturalista francês, considerado um dos inventores do termo biologia. Importante estudioso em sua época, Lamarck introduziu, em 1809, a teoria do uso e desuso. Segundo esta teoria, os órgãos se desenvolvem segundo suas necessidades, e outros se atrofiam decorrentes do desuso. Em outras palavras, o organismo sofria adaptações para atingir uma relação harmoniosa com o ambiente onde se inseria. O ambiente, portanto, provocava a alteração, já que o órgão passava por sucessivas transformações para atender às necessidades que o meio externo criava. Isto pode ser comprovado observando-se pessoas que passam muito tempo sem poder andar: os músculos e ossos de suas pernas enfraquecem-se pelo desuso. Por outro lado, atletas como jogadores de futebol e maratonistas têm estes órgãos bem desenvolvidos, dado seu uso constante.

Outra teoria criada por Lamarck, em consonância com a anterior, era a da herança dos caracteres adquiridos. Nela, o naturalista defendia que as alterações sofridas pelo organismo ao longo da vida de um determinado ser eram transmitidas a seus descendentes por hereditariedade. Assim, a evolução se dava por meio da transformação sofrida pelas sucessivas gerações das espécies com o objetivo de se adaptar ao ambiente.

Lamarck era um dos mais respeitados cientistas de século 19 e chegou a ser elogiado por Darwin pelo seu esforço em apoiar e divulgar o conceito de evolução, mas, com relação ao ser segundo postulado,... estava errado!

Se Lamarck estivesse certo, um rato que tivesse sua cauda arrancada geraria filhotes sem cauda. Mas não é o que ser verifica (esta experiência foi realmente feita, por um cientista chamado August Weismann). Judeus não nascem já circuncidados, apesar de centenas de suas gerações praticarem o hábito da circuncisão.

O que ele deixou passar, e que Charles Darwin (1809-1882) sabiamente percebeu, era que os caracteres adquiridos durante a existência do indivíduo não eram transmitidos à prole. Enquanto, para Lamarck, o ambiente era a causa direta das modificações que ocorrem nos seres vivos, para Darwin, os seres sofrem mudanças aleatórias, e só aquelas que oferecem vantagens na sobrevivência e reprodução do indivíduo acabam se tornando características da espécie, por uma seleção involuntária causada pelo ambiente.

Darwin não sabia explicar o motivo disto na época, mas suas observações levavam a esta conclusão. Posteriormente, com o conhecimento da genética, pudemos atestar que somente por modificações nos genes é que se recebe uma herança de um antecessor.

Ou seja: para Lamarck, o pescoço da girafa tornou-se comprido após várias gerações do animal “esforçarem-se” para atingir os galhos mais altos das árvores. A cada geração, nascia um indivíduo com um pescoço um pouco mais comprido que os dos seus pais, e o ganho que ele teve durante o longo da vida se somaria ao dos seus antepassados, fazendo com que sua prole nascesse com um pescoço ainda mais longo ainda...

Esta idéia, hoje praticamente abandonada, é chamada de lamarckismo, e, por mais incrível que possa parecer, ainda é espalhada. Não é raro, inclusive, ver aulas sendo ministradas com a apresentação desta teoria como seleção natural. Não é.

Já Darwin partia da variabilidade para explicar o mesmo fato. O pescoço da girafa só é comprido porque, durante o nascimento das muitas gerações deste animal, algumas vezes nascia um indivíduo com uma falha: um pescoço um pouco mais comprido. Só que esta mutação era vantajosa, dando mais possibilidades de sobrevivência ao animal ao permitir que elas conseguissem alimentos em locais mais altos, mesmo durante períodos de seca. Assim, ele se reproduzia mais que aqueles portadores de pescoço curto, que já não tinham a mesma possibilidade de sobreviver tempo suficiente para produzir a mesma quantidade de descendentes. Conseqüentemente, os descendentes do indivíduo de pescoço comprido herdavam a falha e, como também viviam e se reproduziam mais, com o tempo o pescoço comprido tornou-se regra, e aqueles sem esse diferencial acabaram por desaparecer. A ação involuntária do ambiente, portanto, selecionou os animais portadores características adaptadas às novas exigências ambientais (no caso, um pescoço mais comprido).

Assim, o atual tamanho pescoço da girafa é o produto de sucessivas falhas genéticas ocorridas durante centenas de milhares de gerações e mantidas por terem favorecido à espécie!





2. No topo da evolução
Quando Darwin postulou sua teoria da seleção natural, a sociedade da época sentiu-se ultrajada. Era inconcebível para a cultura vitoriana admitir que o ser humano era descendente de uma criatura primitiva. Os motivos para esta ojeriza tinham duas origens. A primeira, religiosa, era óbvia. Se somos feitos à imagem e semelhança do Criador, aceitar o que Darwin dizia era o mesmo que concluir que a Bíblia estava errada! A segunda, não menos assustadora, era causada pelo orgulho antropocêntrico: afinal, se o homem evoluiu como todas as outras espécies, não era melhor que qualquer animal, não é?

Bem, não demorou para que surgissem idéias que conseguiam ao mesmo satisfazer aos descontentes e tornar a incitante teoria mais palatável. E uma destas foi a de que nós, homens, somos a definição última de um “ser evoluído”. Nossa evolução nos trouxe ao estágio de perfeição (ou quase isto) no qual nos encontramos, de onde podemos observar todas as outras espécies, ainda envolvidas na luta evolutiva.

Em outras palavras: o ser humano era a espécie mais evoluída dentre todos as outras!

Isto satisfazia parcialmente a aqueles aflitos com a aparente insignificância em que o evolucionismo atirava a humanidade. Se éramos os animais mais evoluídos, então realmente éramos especiais! Estávamos no topo da árvore evolutiva e o mundo era nosso domínio. Esta idéia arrefecia até a alguns religiosos, já que isto poderia indicar que, se fomos os escolhidos para termos um cérebro mais poderoso e sermos os senhores do mundo, também poderíamos ter sido os únicos a serem agraciados com uma alma.

Seguindo esta linha de raciocínio, os demais seres, vegetais ou animais, vertebrados ou invertebrados, peixes ou répteis, estavam em etapas evolutivas inferiores a do homem. Ou seja, o objetivo de qualquer processo evolutivo necessariamente era o de produzir a inteligência, encontrada neste momento apenas nos seres humanos.

Obras de ficção científica em que alguém viaja no tempo ou no espaço e acaba por encontrar um mundo onde outra espécie (os macacos, os peixes, os insetos ou os lagartos) evoluiu analogamente à espécie humana são freqüentes na literatura e no cinema, e demonstram nossa tendência antropofórmica.

Só que há uma má notícia para aqueles que compartilham a idéia de um homem no topo da evolução: ela também está errada!

Isto porque ser mais “inteligente” não significa necessariamente se mais “evoluído”. A inteligência humana é, na verdade, apenas uma característica que surgiu no nosso processo evolucionário. Assim como a força do urso, a velocidade do guepardo ou a capacidade de algumas bactérias de independer de oxigênio.

Alguns ainda defendem que somos mais evoluídos por sermos mais adaptáveis. Porém, partindo deste princípio, o homem é deixado para trás por criaturas tão minúsculas quanto os vírus, com uma capacidade de mutação e sobrevivência muito superior.

Na verdade, não existe nenhuma espécie mais evoluída que a outra. Cada espécie existente hoje passou por um processo evolutivo próprio (alguns mais longos, outros mais curtos) e chegou ao ponto em que se encontra hoje, adaptado ao ambiente em que vive e perfeitamente capaz de ocupar o seu papel no complexo ecossistema. E ainda em constante adaptação a um ambiente que nunca pára de sofrer mudanças.


Um ser humano não pode nadar mais rápido que um peixe, pois este é melhor adaptado (ou mais evoluído) para o meio aquático. Da mesma forma, não somos capazes de sobreviver no frio extremo sem proteção artificialmente criada – mas os ursos polares, focas e pingüins são, pois são melhor adaptados àquele ambiente. Nem podemos metabolizar luz solar para transformá-la em energia, mas muitas plantas podem, o que prova que, para isto, são mais evoluídas. Mas nenhum outro ser têm a capacidade de abstração existente no raciocínio humano, e, para isto, somos realmente mais adaptados.

Talvez o diferencial da espécie humana resida no fato de que somos, ao que tudo indica, a primeira espécie com o poder de transformar significativamente o ambiente de acordo com suas necessidades, num processo inverso ao da seleção natural. Além do mais, podemos dizimar espécies em massa com relativa facilidade. No entanto, também temos a singular capacidade de pensar não apenas como indivíduos, mas como “espécie”, e assim conjecturar um provável futuro para a humanidade. Há muito já descobrimos que desajustar o meio ambiente, destruindo recursos naturais ou promovendo o assassínio de gêneros inteiros de seres vivos, é prejudicial também à nossa espécie. E, segundo as lições de Darwin, transformações prejudiciais acabam por ser abandonadas. Porém, quando não o são, inexoravelmente levam à extinção da própria espécie...


* * *


Na terceira e última parte deste artigo, continuaremos a analisar outros erros comuns de entendimento da teoria da seleção natural. Será que o homem descende de macacos?

Até lá!


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30 de setembro de 2009

O enigma da girafa - Parte 1 de 3


É curioso constatar que, a despeito de ter mais de cem anos de existência e de ser aceita pela maioria da comunidade científica mundial, a teoria proposta por Charles Darwin em "A Evolução das Espécies" é ainda pouco compreendida pelo público em geral.

Mesmo entre defensores do evolucionismo, é comum encontrar quem confunda alguns dos seus preceitos com os de outras idéias. Pior ainda, muitos ainda citam, como provas da teoria, certas bobagens que foram inventadas inicialmente com o objetivo de ridicularizá-la. Ou seja, a ironia dos detratores da evolução acabaram misturando-se a alguns dos seus conceitos reais, fazendo com que muitos acreditem em premissas incorretas e ainda as espalhem. É óbvio que isto é um prato cheio para aqueles que defendem que a teoria é falha...


Teoria ou lei?
Tudo bem, o evolucionismo é apenas uma teoria. Apesar de todas as evidências encontradas até hoje, ela ainda não é plenamente aceita por toda a sociedade (ainda que na comunidade científica sua aceitação seja esmagadora). Se ela fosse incontestável, não seria uma teoria; seria uma lei.

Lei, para a ciência, é uma verdade provada e aprovada. Veja, por exemplo, a Lei da Gravitação Universal: poucos a colocaram em dúvida desde que foi elaborada.

Há, contudo, um "porém" (sempre há!). Muitas leis acabam sendo modificadas com o tempo. E - mais raro - podem até ser abandonadas, quando provado que estão totalmente erradas. A própria Gravitação Universal foi desafiada por Einstein, com sua teoria geral da relatividade, que resolvia alguns problemas da lei criada por Newton, ao demonstrar que alguns de seus aspectos não são assim tão universais.

No entanto, embora muito aceitas, a relatividade geral e sua irmã, a relatividade especial, ainda são consideradas apenas teorias...


O que nos dá a entender que a distância entre uma lei e uma teoria não é tão enorme assim. Podemos postular, portanto, que uma teoria vira lei quando o lobby para desacreditá-la é menor que aquele para sua aceitação! Em outras palavras, o critério para formar uma verdade incontestável depende mais de fatores culturais e sociais do que de provas científicas propriamente ditas.

Assim, é razoável crer que, caso não houvesse a maciça pressão exercida por grupos e organizações religiosas, fervorosas adeptas do criacionismo, o evolucionismo, tão amplamente aceito nos meios científicos, não seria alvo de tanta polêmica e poderia ser ensinada nas escolas sem problemas, como, aliás, acontece com outras teorias...


Evolucionismo para dummies
O que é, afinal, a teoria da evolução?

A idéia de evolução biológica baseia-se no princípio de que as características genéticas de um indivíduo são herdadas. Em outras palavras, os fatores que determinam se uma criatura é um alface ou um rinoceronte são oriundos destes mesmos fatores em seus pais. Dependendo da quantidade de pais (que, sim, podem variar de uma espécie para outra), o indivíduo ou é uma cópia idêntica da sua mãe (em espécies cuja reprodução é assexuada) ou uma mistura das características de seu pai e de sua mãe.

Bom, pelo menos isto é o que deveria ser.

Acontece que neste processo de cópia, acontecem falhas. Da mesma forma que uma fotocópia pode não ser idêntica à original, as cópias dos genes do pai presentes no filhos podem conter imperfeições. Estas falhas podem, ainda, ser propagadas para os descendentes destes filhos. E é claro que as cópias das cópias são ainda mais suscetíveis a possuírem diferenças com relação ao original.

É aí que entra a idéia da seleção natural. Segundo Darwin, estas imperfeições, ou mutações, podem gerar três tipos de resultado: o primeiro é a nulidade da mutação, com a imperfeição pouco ou nada significando para o indivíduo; outra possibilidade é a de que a mutação seja desfavorável de alguma forma para o indivíduo; e a terceira é a de que a mutação lhe seja favorável em algum nível. E é essa terceira possibilidade que impulsiona a evolução!

No primeiro e no segundo caso, não há diferença em termos evolucionários. Se a mutação é desprezível, ela não dá nem tira vantagens do indivíduo, que tem a mesma chance de reprodução e sobrevivência que qualquer outro que não a possua. Assim, a imperfeição acaba se diluindo em gerações posteriores, já que a maioria dos indivíduos que se reproduziram não a possuem.

Se ela é desfavorável, há grandes possibilidades de que o indivíduo, com desvantagens em relação à média se reproduza menos, ou que morra antes de que possa reproduzir-se. Da mesma forma, a mutação não se propaga muito. (Obviamente, na pouco provável possibilidade de uma grande propagação, a espécie como um todo poderia correr perigo).

Agora, se a mutação é favorável, algo interessante acontece: o indivíduo, por ter alguma vantagem causada pela mutação, tem maiores sucessos de sobrevivência e reprodução. Mudanças ambientais, como um aumento de temperatura, uma epidemia ou a chegada de um novo predador, podem ser melhor suportadas por ele. E assim ele sobrevive, enquanto os outros sucumbem. Da mesma forma, como vive mais, tem maiores chances de reproduzir, podendo até atrair mais indivíduos do sexo oposto. Assim, ele gerará mais descendentes que a maioria, não possuidora do diferencial ganho por acaso. E não pára por aí: seus descendentes, que já são em maior número do que de um outro indivíduo sem a mutação, podem herdá-la, e então também terão vantagem competitiva, sobrevivendo e reproduzindo-se mais que os outros.

Em algumas gerações, os indivíduos com a mutação serão a maioria da população, e, então, os indivíduos sem o diferencial se reduzirão até desaparecerem. A mutação, neste caso, se tornou regra, e passou a se incorporar definitivamente nas características da espécie.

A espécie evoluiu!


Junte centenas de milhares de gerações com quantidades impensáveis de mutações aleatórias, e vamos ter um indivíduo no final bem diferente daquele original. Muitas mutações, neutras ou imperfeitas, foram abandonadas. Mas as melhores, aquelas causadoras de vantagens, permaneceram. Essa vantagem pode ser um chifre mais pontudo, uma visão mais eficiente, uma membrana que permita planar ou, quem sabe, um cérebro maior...

E, no caso da girafa, um pescoço mais comprido...

Sobre esse assunto, a gente conversa na segunda parte deste artigo!

Até lá!

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30 de janeiro de 2007

1a. Postagem

“Como você ainda não tem um blog?”

Não era a primeira vez que eu ouvia aquela pergunta. Várias pessoas já me haviam indagado isto antes. Porém, quando iria responder ao amigo que ora me perguntava, percebi que as respostas de sempre já não eram mais adequadas. A falta de tempo ou de assunto não eram mais desculpas suficientes. Como era possível que eu ainda não tivesse um blog?



Os primeiros blogs
Quando os primeiros blogs timidamente começaram a surgir na web, a idéia não me chamou a atenção. Eu, como muitos, não notava o nascimento de uma revolução que abalaria a internet e a imprensa de uma forma que já há algum tempo não se via acontecer.

Fruto da idéia de Dave Winer, programador do Vale do Silívio que abandonou sua coluna em uma conceituada revista de informática em meados de 97 e criou um site para publicar seus artigos, o primeiro blog considerado como tal surgiu da necessidade de disponibilizar conteúdo de forma rápida e prática. Em pouco tempo, outros profissionais adotaram o modelo, no qual textos eram inseridos de forma linear no site, organizados e ordenados por data (os mais novos vêm primeiro). Os weblogs, assim chamados porque continham basicamente registros de navegação dos autores pela rede e das novidades que encontravam no caminho, tinham um formato ágil e permitiam edição rápida de textos, já que não continham grandes firulas em seu layout. Era só digitar o artigo e publicar.

Era preciso, contudo, um conhecimento mínimo de montagem de páginas web - sem contar que a publicação de um artigo renvolvia a republicação da página inteira, já que a entrada de texto nada mais era que uma alteração física do conteúdo desta. Mas logo surgiria, em 1999, uma ferramenta que popularizaria os blogs (não demorou para abreviarem o nome do formato), de forma qualquer pessoa com acesso à rede poderia ter sua voz veiculada para todo o planeta: o Blogger. Este serviço permitia que mesmo uma pessoa sem nenhum conhecimento prévio de editoração web ou de montagem de páginas publicasse seus textos. Bastava digitá-los e dar-lhes um título. Pronto! O artigo era inserido na página, links para o mesmo eram criados e o trabalho estava terminado. A idéia pegou, e vários outros serviços do gênero começaram a surgir na rede. O próprio Blogger continua firme e forte - foi comprado pelo Google e hoje conta com centenas de milhares de blogs (este que você está lendo agora está hospedado nele).

O fenômeno
E, claro!, com a popularização veio a banalização.

Blogs começaram a surgir aos borbotões. A grande maioria, contudo, tratavam de assuntos de importância discutível. Muitos eram apenas diários virtuais, onde adolescentes relatavam suas aventuras sociais, pessoas comuns tentavam satisfazer seus desejos de saírem do anonimato e artistas promoviam-se, contando alguns detalhes de suas vidas pessoais. Qualquer um que ansiasse aparecer na rede aproveitava aquele modo fácil de publicar alguma coisa, seja lá o que fosse. Virou moda ter um blog!

Como quase todas as ondas na internet, a coisa começou com os americanos, porém aos poucos ia sendo copiado por pessoas de outros países. Os brasileiros, obviamente, não poderiam ficar de fora. Os grandes portais tupiniquins finalmente perceberam o excelente negócio que estava surgindo e passaram a disponibilizar também este serviço.

Os recursos, como anexação de imagens e maior flexibilidade na criação de layouts, aumentavam rapidamente, graças a sempre saudável concorrência. Com tudo isto, os blogs pessoais também evoluíram. Tornou-se out ter um blog feio, sem recursos ou com um layout comum.

E a blogosfera começaram a ramificar-se. Surgiram os blogs especializados nos mais diversos assuntos, de astronomia a culinária. Nasceram os fotologs – blogs com quase total inexistência de textos, contendo apenas imagens.

Existem atualmente cerca de 50.000.000 de blogs no mundo inteiro. São criados dois blogs por segundo! E a curva de crescimento é ascendente...

Entretanto, até então, talvez por causa da enorme quantidade de amenidades, quase ninguém imaginava o potencial dos blogs como veículos sérios de comunicação. Isto logo mudaria.

Relevância
O potencial dos blogs como fontes de notícias surgiu quase por acaso.

Nas horas que sucederam à queda do World Trade Center, as redes de notícias exauriram todas as suas forças atacando duas frentes: a primeira, conseguir informações; a segunda, divulgá-las na Internet. Em todas as duas, chegaram ao seu limite. Não haviam repórteres o suficiente para tanta notícia, nem servidores web parrudos o suficiente para tantos acessos. A solução veio por meio dos blogs. Em meio ao caos, diversos bloggeiros (alguns anônimos, outros não) que estavam em Nova York contavam o que viam em tempo real.

Em setembro de 2002, um iraquiano de 29 anos, sob o pseudônimo Salam Pax, iniciou a publicação de dezenas de textos em seu blog contando o dia a dia em Bagdá, comentando a vida sob o regime totalitário de Saddam Hussein e como a população se mantinha temerosa tanto com a continuidade do governo quanto com a iminente invasão americana. O conjunto dos textos do blog, que tornou-se mundialmente famoso, virou livro.

Durante o ataque americano ao Iraque, bloggueiros que estavam em Bagdá no momento da queda da cidade noticiavam para o mundo, em tempo real, o que viam pelas janelas de suas casas – de maneira mais rápida e imparcial que qualquer agência de notícias.

Finalmente, a imprensa toda poderosa percebia que encontrava um rival à altura: qualquer um, em qualquer lugar do mundo, podia dar uma notícia em primeira mão. E não era necessário ser um repórter!

A idéia inicial dos blogs - comunicar - foi extrapolada. O serviço apresentava-se como uma ferramenta extraordinária para atividades muito mais nobres do que aquelas para as quais até então era utilizado. Jornalistas descobriram que através dos blogs era possível postar notícias de forma on-line, imediata, de forma autônoma e desburocratizada. Grupos de pessoas dos mais variados tipos e com as mais diversas finalidades notaram que os blogs eram mais eficientes que quadros de avisos em paredes. Sites de humor encontraram uma forma muito mais rápida de publicar piadas e charges. Alguns blogs passaram a ser tão comerciais ou importantes que deixaram os serviços gratuitos e passaram a ter domínio próprio.

O blog é uma realidade. E isso é bom!

Facilidade de publicação
Um site tradicional é, sem dúvida, muito mais flexível e, portanto, mais poderoso que um blog. Você não pode, por exemplo, rodar uma aplicação de e-commerce em um blog. Tampouco um blog é o tipo de site mais indicado para disponibilização de currículos ou arquivos para download. Estes serviços são, pela sua própria natureza, limitados no que se refere ao seu layout; mesmo com todos os recursos que existem atualmente, ainda é necessário que o blog tenha uma estrutura padrão para que os textos possam inseridos de forma encadeada e linear, com links de acesso a postagens antigas e possibilidade de publicação de comentários de visitantes. Estas limitações, no entanto, são irrelevantes para os propósitos do bloggeiro: facilidade na postagem de textos. Para isto, eles são imbatíveis.

Considere a atualização de um site tradicional. A edição do conteúdo deve ser feita diretamente em linguagens de programação como HTML e JavaScript, ou através de uma ferramenta que possibilite a edição de forma dinâmica. A inclusão de uma nova página geralmente obriga a alteração de outras já existentes no site (talvez de todas), para a inclusão de links para esta. Feita a alteração, as páginas alteradas devem sem enviadas para o serviço de hospedagem – através de um programa que faz a transferência ou pelo próprio site da empresa que fornece o serviço. O processo, como se nota, é trabalhoso.

E a atualização de um blog? Bem, para a inclusão de uma postagem basta digitar o texto em qualquer editor de textos – qualquer um mesmo, até o Notepad, e enviá-la para publicação. Este envio é cada vez mais facilitado. O jeito mais difícil de fazê-lo é conectar-se ao site que provê o serviço e fazer o upload da página. Os links já serão atualizados automaticamente, o texto entrará com a formatação padrão da página e o trabalho estará terminado. Fácil, não? Pois é mais ainda: instalando alguns programas em seu computador, é possível acessar um site e publicar um texto encontrado com poucos cliques, ou editar um artigo no Word e postá-lo sem sair do editor de textos. Atualmente, pode-se fazer todo o processo de edição e postagem de um blog até por um telefone celular, desde que este tenha acesso à rede e tenha um mínimo de operabilidade no teclado! Obviamente, a exclusão ou alteração de postagens exige um trabalho um pouco maior, mas ainda é muito mais simples que a edição de um site.


Finalmente...
Mexo com informática há quase vinte anos. Há mais de uma década navego na Internet. Possuo um site há anos. Mas ainda não tinha um blog. Até o meu pai, que nunca tivera um contato com informática e ainda trava uma batalha para usar o Windows, já tinha um blog! E eu não.

Estava na hora de montar o meu.

O problema inicial foi achar um nome para o blog. Pensei em dezenas de nomes, mas a maioria já estava sendo utilizada. Parecia que os nomes bacanas para blogs já estavam esgotados.

É, percebi, eu tinha ficado de fora da onda por muito tempo...

Aconteceu algo semelhante com o Orkut – todo mundo tinha, eu não! Quando entrei, houve uma avalanche de amigos me adicionando. Descobri que só eu ainda estava de fora...

Com o Messenger foi a mesma coisa. Comecei usando profissionalmente, mas nunca fui muito de bater-papo pela web, e acabei esquecendo que o serviço existia. Um belo dia, resolvi verificar se a minha conta ainda estava ativa e fiquei surpreso por constatar que ela não havia sido cancelada. Mas eu não tinha quase nenhum contato. Também fiquei de fora dessa por muito tempo...

Fora da rede!!!

O nome surgiu e – eureka! – estava vago!

Combinava totalmente com o conteúdo desejado. Fora da Rede é um blog voltado para aqueles que gostariam de ler e opinar sobre os mais variados assuntos, porém com uma perspectiva diferente da tradicional, sem se deixar levar por modismos, dogmas ou pseudo-verdades já pré-estabelecidas.

Fugindo do senso comum e tentando manter o bom senso, Fora da Rede não fugirá de tabus nem de assuntos proibidos. Política, religião e futebol serão discutidos, assim como ciência, cinema, música, comportamento, ou qualquer outra coisa. Podemos discutir sobre um assunto sério e na postagem seguinte estarmos rindo com outra totalmente non-sense.

Obviamente, como as postagens do blog serão feitas por mim, serei eu a moderar os comentários enviados. Porém, o que não for de caráter ofensivo para ninguém, será publicado. Sinta-se à vontade para replicar minhas opiniões (que podem estar erradas e não terei problemas em corrigi-las) e a enviar artigos também. O objetivo do blog não é ser um espaço parcial e unidirecional – sentirei-me muito feliz de compartilhá-lo com todos os visitantes!

Seja bem vindo!

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